quarta-feira, 16 de março de 2011

Carnaval


Bem, infelizmente não pude escrever antes como planejado. Tinha pensado em escrever justamente no "feriado" de carnaval que era mais propício, mas não podendo, eis-me aqui agora.
Vamos falar de uma das maiores propagandas do Brasil e que o torna tão famoso: o carnaval. Para começo de conversa, gostaria de esclarecer a "origem" do carnaval e que vao embasar um pouco desta exposição. O nosso carnaval é uma adaptação das festas romanas e gregas, que tinha como nome CARne-NAda-VALe [cuja a derivação e simplificação linguística para nós ficou carnaval...] e que tinha como motivação a "festa da carne" [meio óbvio, não?].
Pois bem, a história que conheço [contadas por um orador famoso e bem conceituado no Brasil] é essa: tais festas eram promovidas pelos poderosos da época [reis, "governo" etc], regadas a muito vinho [a bebida alcoólica mais comum na época], comida e sexo. Faziam verdadeiras orgias, com um número grande de pessoas e todos usavam máscaras. Será que tem alguma semelhança com a festa que fazemos?

Um ponto interessante a ser ressaltado é o motivo pelo qual usavam máscaras. Elas eram colocadas, justamente como sugerido pelo nome, para fazerem o que quiserem, satisfazerem seus desejos, promover a libertinagem por um determinado período de modo que não sentissem culpa pelo que fizessem. A máscara era como se falassem: na sociedade eu não posso fazer isso, sou uma pessoa séria e bem comportada, e aqui eu posso, posso tudo, já que não é meu rosto que está estampado aqui... Ainda hoje usamos máscaras, sejam de plástico, sejam de carne e pele ou seja social. Reflitam.

Depois de um pouco de história, vamos passar para a parte mais prática: o carnaval na sociedade moderna ou poderíamos dizer "o samba do crioulo doido". Essa festa se tornou popular, porém cara, muito cara. E pra que isso? Adivinhem? Para explorar ainda mais o povo e encher o bolso de quem mexe com isso. E o lucro é grande! Quem dirá para "artistas" e políticos. Aí, novamente, a velha política do Pão e Circo, como já falei. Cobra-se caro por abadás, como passaportes da alegria [mas não é assim que vejo], e a população não tem sequer a moradia, educação, saúde ou comida que precise para que isso se justifique, ou pelo menos para que se desfarce. Isso sem contar com as músicas fantásticas do momento: Rebolation, Melô da Mulher Maravilha ou Quero não/Posso não etc. É de uma musicalidade, melodia e letras de dar inveja a Bach, Beethoven, Mozart, Caetano Veloso, Engenheiros do Havaí, Legião Urbana, Maria Bethânia e similares. Acho que esses primeiros se revirariam no túmulo...

Outra coisa interessante que se vê é a quantidade de ambulância que disponibilizam para atender bêbados e arruaceiros neste período, sendo que os pobres não as têm nem quando passam mal, a ponto de morrer sem a assistência básica. A mesma coisa vale para os policiais que fazem a segurança da festa, hospitais lotados sem a mínima condição de atendimento adequado ou médicos e enfermeiros para socorrer quem precisa. A quem conteste, dizendo que os pequenos comerciantes faturam bastante nessa época também. É... podem estar certos, mas se essas famílias dependessem dessa data para venderem cervejas/refrigerantes, churrasquinhos, aparatos carnavalescos e outros balango-dangos passariam fome no resto do ano.
Tem até uma repórter da Paraíba que falou um pouco sobre isso, como forma de desabafo talvez, e, talvez, falando em nome de outros e que foi veiculado na internet esses tempos. É, pensamos praticamente do mesmo jeito, apesar de ter achado um tanto quanto desesperado e até agressivo. Podemos ser mais respeitosos, lembrando que tudo o que coloco aqui são pensamentos meus sem julgamento ou pré-conceitos, para mais ou para menos. No atual momento, sobre o que acho do carnaval, quem gosta e quem participa dele. Cada um escolhe o que acha melhor para si, como colocado na postagem sobre liberdade e libertinagem.

Tem também os que gostam de ver os famosos desfiles das escolas de samba, no Rio e em São Paulo. Há os camarotes vips, com artistas televisivos e outros tipos, a galera que paga para desfilar e uma competição [para mim sem sentido] para ver qual das escolas vai ganhar. Oras, passa-se o ano planejando e executando todas aquelas alegorias, cobra-se a um preço exorbitante pelas fantasias para desfilar e, se perde [ou se acontece um acidente, como o que aconteceu este ano], chora-se amarga e longamente [a mesma coisa pode-se falar do futebol, mas isso é conversa para um outro momento]. Porque se preocupar com isso, quando se tem um terremoto, um tsuname e um desastre nuclear devastando todo um país? Tudo bem, sei muito bem que o acontecido no Japão foi depois do carnaval, mas nosso objeto de interesse parece estar mais voltado ao fútil do que ao útil, e falo isso em linhas gerais sem querer apontar o dedo na cara de alguém. Porque nos importarmos com uma competição e umas fantasias em detrimento de milhares de pessoas que estão morrendo necessitando de ajuda? Mas compreendo que cada um tem um tempo para despertar e está num nível de consciência [em que já estive há muito tempo atrás, inclusive].

Pra finalizar, acho que não paramos para pensar no quanto se gasta com tudo isso. O quanto se gasta com a quantidade de mortos que aumentam nesse período ou com a quantidade de gastos com a saúde daqueles que adquirem algum tipo de sequela por acidentes. Impressionante que o governo [e nós] tem dinheiro para investir nisso, mas reclamamos ou nao se tem dinheiro para aplicar na população carcerária e em sua reeducação, na saúde, na educação, no transporte, no saneamento básico, na moradia etc etc etc. Por último, gostaria de falar sobre as consequências em comemoração da festa da alegria [comemorar o que mesmo? E que alegria é essa?]. O que vemos antes, durante e depois [variável de acordo com a região do nosso país, já que sabemos que os nordestinos lideram com relação a isso]: mortos ou sequelas por acidentes diversos, DSTs sendo transmitidas aos montes, gravidez indesejadas, abortos ou mães [e raramente pais] despreparados [e, muitas vezes, adolescentes e desempregados], alcoolismo [ou, pelo menos, aumento dos vícios considerados lícitos - álcool e cigarro], milhares de aves que morrem para doarem suas penas para que possa ser usadas de enfeites nas fantasias etc... Saldo positivo? Não para mim. Essa alegria, que dizem ter o carnaval, não me seduz. É ilusão e muitos querem ser iludidos, ainda.

Acho que a festa da alegria do Carne-Nada-Vale poderia ser substituído pela verdadeira Festa da Vida, mas teríamos que planejar e organizar ainda do jeito que a Vida merece. Poderíamos começar ajudando nossos irmão nipônicos, na medida do possível, e comemorarmos juntos as Vidas. Na verdade, minha vontade era estar lá, mas não é possível, bem como não foi possível estar no Haiti, no Rio de Janeiro ou Blumenau nas dificuldades que passaram. Pelo menos não como eu gostaria, mas se não é possível estar fisicamente, trabalhemos em pensamento. Com tudo isso que coloquei, será que a história do carnaval dita no começo tem alguma coisa a ver com o que fazemos hoje? Para mim foi só a vestimenta mudou e ficou mais modernizada, mas o significado é, praticamente, o mesmo.

Au revoir.

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