domingo, 18 de março de 2012

(des)Apego

Vamos começar pela definição desta palavra de acordo com o dicionário:
1- Facilidade em deixar aquilo a que se tinha apego.
2- Indiferença, desinteresse.
3- Largar; soltar-se; desagarrar-se.

 Claro que o desapego não têm exatamente a ver com a indiferença por algo ou quando perdemos o interesse, principalmente pelo fato de se contradizerem de certa forma, pois temos apego justamente a algo que gostamos muito e que não queremos nos desfazer. Mas pode-se entender a colocação do dicionário quanto ao sentido da palavra. Abordarei este tema em 3 frentes: apego às coisas, às pessoas e a nós mesmos.


Esta pequena palavra me chamou a atenção justamente pelo fato de não a praticarmos tanto nos dias atuais, aliás poderíamos dizer genericamente que pratica-se o apego. Para a grande maioria desta sociedade, a necessidade passou a ser valorizada pelo ter. O que o trabalhador recebe no mês é gasto com o necessário e também com o supérfluo, onde este último representa a maior fatia. Todos reclamam da falta dinheiro ou que recebem pouco, mas toda quantia que receber será sempre insuficiente, pois quanto mais se recebe, mais se gasta. Então recebemos o que é "justo". O problema está no que se gasta. Como disse anteriormente, onde mais se gasta são nos itens que não são necessários, em que se incluem cigarro, álcool, festas, roupas, carros, marcas e outras "bobagens". Dinheiro pra esses itens sempre se têm, enquanto que o necessário as vezes falta. O resultado são guarda-roupas, armários, despensas, gavetas e afins todos abarrotados de coisas, que muitas vezes sequer lembramos que possuímos. E para exercitar o desapego neste item é um verdadeiro caos. Lembro-me de uma reportagem da revista Vida Simples, onde a repórter resolveu fazer uma "faxina", fazer um limpa e se desfazer de 20 itens. Segundo ela foi um sacrifício (e é mesmo, não acha?), nos mostrando o quanto gostamos de juntar coisas. Juntamos, juntamos, juntamos e para quê? O nome disso é egoísmo. Tudo bem, atribuímos valores sentimentais a alguns objetos e se torna ainda mais difícil nos desapegarmos deles, mas é necessário. Então podemos começar este exercício com os objetos, até passarmos para as pessoas.


Se já é difícil nos desapegarmos das coisas que possuímos, imagine nos desapegarmos das pessoas então? Chega a ser loucura pensar na possibilidade de nos desapegarmos das pessoas com quem convivemos, as que gostamos e desgostamos, mas sim, é verdade: necessitamos nos libertarmos das pessoas. Dos que não gostamos parece relativamente mais fácil, mas só parece. Digo isso porque queremos nos livramos delas, mas elas são muitíssimo importantes para nos ensinar a ter mais paciência, respeito, bondade, tolerância, humildade e compaixão com os outros e conosco. Já as desapegar das pessoas de quem gostamos... é um verdadeiro suplício! Mas necessário! Esse apego é uma questão de dependência, pois a outra pessoa nos oferece conforto, segurança, estabilidade, afeto etc. O que quer que seja é bom e faz bem, mas temos que criar isso dentro de nós mesmos e não depender que os outros nos deem isso. Esperam esse retorno do marido, do filho, da mãe, da prima, do colega de trabalho, do cachorro, do mendigo e quem quer que seja... Queremos nos agarrar às pessoas até a última oportunidade (até mesmo depois dela), nos apegando mais ainda a cheiros, sons, fios de cabelo ou qualquer coisa que torne a pessoa mais presente e, principalmente, palpável. Se fosse possível alguns até prenderiam ou "enfiariam" (introduziriam ou penetrariam) a outra dentro de si. Esta é a definição correta, neste sentido: prisão. E isso não é favorável para ninguém, muito menos necessário. O porque disso é simples: nascemos sós, morremos sós e só levemos o que aprendemos, a sabedoria adquirida. Daí a enorme dificuldade de muitas pessoas em deixarem e deixar-se ir e vir, seja para uma viagem, seja um novo emprego, seja mudança de cidade ou estado, seja mudança de país ou seja para a morte. E por falar em morte...


Vamos à última parte: o desapego a si mesmo. O que? Esperaí, como é que é? Sim, é isto mesmo: desapegar-se de si próprio. Mas existe isso? E para que precisa disso ou para que serve? Bem, também é simples. E lógico. Raciocinem: se quando morremos perdemos nosso corpo (e o que acontece conosco após a morte cada um tem sua difinição, hipótese ou teoria; bem como o que viemos fazer aqui), para que ficarmos enlouquecidos achando que precisamos dele até depois da passagem? Para que o usaríamos se não precisamos mais dele? Não sabemos o dia de amanhã, portanto temos que nos prepararmos e estarmos prontos para as mortes, a dos outros e a nossa, pois é nosso destino. Temos que aceitar (aliás, este é o assunto da próxima publicação: aceitação). Já havia exposto sobre este fato na terceira parte da publicação sobre a morte. Para morrer, basta estar vivo! Tem gente que se desapega de tudo, mas esquece-se de desapegar-se de si mesmo (como ilustrado na imagem abaixo de forma bem-humorada) e isso é egoísmo também. Então, faz-se necessário nos prepararmos, da melhor maneira possível (cada um ao seu jeito) para quando for chegada a hora. Precisamos sim do nosso corpo, enquanto vivos, e por isso mesmo temos o dever de cuidar muito bem dele, pois é através disso que fazemos o que temos que fazer; realizamos nossas tarefas. Também é preciso lembrar que não somos o nosso corpo, apenas temos um corpo. E precisamos nos desapegarmos dele justamente por isso: o corpo não é nosso, foi apenas emprestado por Deus. Pessoas que se preparam para este evento são sábias e conscientes. Conscientes de nossa finitude e impotência diante do momento do nosso retorno. Então, por mais bonito ou rico que se seja, porque sabemos fazer isso ou aquilo: nada foge à morte.



Para finalizar: é necessário exercitar o desapego! Temos que nos desapegarmos da comida boa que fulano faz, do jeito como fulana dança, de como beltrano conversa, da presença de beltrano na vida, porque ciclano faz assim ou assado e porque nós ou ciclano é assim ou tem tal e tal coisa. Outra coisa que merece atenção quando o assunto é desapego são as ideias. Devemos nos desapegarmos das ideias que fazem de nós ou que nós fazemos de outros, das ideias que queremos implantar ou forçar sua aceitação. Isto é, num primeiro momento, teimosia e pode virar fanatismo e isto não é bom. Resumindo: vamos treinando o desapego da melhor forma possível, pois nós seremos os beneficiados. E quando conseguimos nos desapegarmos das coisas, ideias, pensamentos, manias, pessoas, cargos e de nós mesmos... Ah!, que alívio sentimos nas costas!


Namastê. Au revoir.

4 comentários:

  1. Faz muito sentido e o texto ficou bem legal.
    Concordo e tbém acho importante e necessário.Isso não significa que as pessoas não terão importância em nossas vidas e que não podemos ter estima pelas mesmas e/ou admira-las.Mas,devemos não nos deixar ficar presos e nem dependentes das mesmas.E mesmo não sendo fácil,estarmos sempre meio que nos preparando internamente,para o momento ( que humanamente,gostaríamos que não chegasse ;mas é inevitável-a morte de pessoas que estimamos) .E procurarmos em vida ,fazer a diferença na vida deles e nas nossas tbém,podendo sim ter saudades e chorar pela dor da separação;mas não parar na mesma.Seguir e com certeza ,fazer sempre o melhor por vc e por este (a) que se foi;porque certamente será assim que alguém que te ama ,quer te ver :bem,prosseguindo ,mesmo diante de diversidades,adversidades,da dor.
    Pq assim como nas estações,todas as fases são necessárias e importantes e todos passaremos por elas e como bem disse ,devemos nos exercitar para lidar com tudo isso da melhor forma possível.Um dia ,após o outro.Até.LUZ

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  2. Como complemento do comentário acima, segue este vídeo.
    Acho que retrata um pouco ou muito o que falamos.A sequência tbém é boa,se quiser ver e ouvir depois...

    Nesta Terra de gigantes...que trocam vidas por diamantes...
    ...coisas que eu queria entender ...o mundo é uma ilha...e assim por diante.

    Depois me fala,se faz sentido pra vc ? E o outro do vale -parabéns,vc gostou ?

    http://www.youtube.com/watch?v=D6WlkTiUeCM

    Agora ,até mesmo...LUZ.

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  3. Acredito que o apego vivenciado pela humanidade seja objeto de estudo tanto para a ciência quanto para a religião. A partir daí podemos compreender a complexidade do assunto na qual me arrisco a manifestar opinião...
    Falar sobre o desapego é difícil por um lado e fácil por outro. Visto que, esta situação é uma realidade comum no nosso cotidiano. Mas ao mesmo tempo ela envolve sentimentos e limitações do ser humano. É nesse momento que a complexidade do tema fica evidente.
    Ao pararmos para pensar percebemos o quanto estamos apegados a pessoas, objetos, etc. E este apego acontece de forma tão intensa, que nos prende a situações negativas. Formando uma bola de neve que a cada dia se torna maior e mais difícil de se livrar.
    A bola de neve que me referi anteriormente refere-se a um apego exagerado que gera uma falsa necessidade precisão. Como se a pessoa, objeto ou situação fosse algo essencial para a vida. E a sua ausência impediria o alcance da felicidade. Todo este contexto fragiliza o ser humano que passa a depender de coisas superficiais para viver.
    O desapego com certeza nos libertaria de situações supérfluas tornando a vida mais leve e feliz. Mas o seu exercício é uma atividade complexa que exige um esforço diário e constante. Talvez a vontade de fazer diferente seja o primeiro passo para esta conquista. Enfim precisamos estar abertos para mais este aprendizado!
    Bem agora vou falar de uma coisa que sou apegada.... ahnn não sei se chega a tanto rsrsrsrsrsrs Mas enfim adoro aniversários! E pelo que me parece tem gente completando mais um ano de vida hoje. Parabéns para você que Deus abençoe sua vida e guie seus passos...
    Um xero!
    Tati

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  4. Fiquei sabendo sobre a data ...então,ainda que não tenha sido pelo aniversariante...Parabéns pelo seu dia !Que possa ter sido um dia bem legal e cheio de sentido,junto de pessoas que ajudam a tornar sua vida com mais sentido e desejo muita sabedoria;pois a cada ano -a vida nos oferece, a mesma, como presente. Cabe a nós valorizarmos isso e partilharmos sempre .Feliz Aniversário !
    Abraço.LUZ.

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